quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Há vida - digna e feliz - depois da morte...

Pois ela sentia que estava morta. Que havia morrido depois daquele Abandono, daquela Traição (sempre aplicando letras maiúsculas a esses sentimentos tão devastadores). Seu vigor, sua beleza, seu encanto, tudo para ela parecia perdido, lavado por aquelas décadas que agora pareciam perdidamente soterradas por uma mentira sem propósito e sem piedade. Assim andava ela, quase um fantasma, uma alma penada, com pena de si. Quase inexistente, quase irreconhecível. Quase. Alguém a reconheceu. Um reconhecimento de tempos pretéritos, de sorrisos sociais e conversas pequenas. Como Florentino Ariza reconheceria Fermina Daza, sabendo quem era por jamais ter se afastado de sua imagem, de sua presença. Daquela presença sempre marcante. E ela deixou-se conhecer, encantada por se redescobrir capaz de encantar, de cantar e de contar, de amar e deixar-se amar, de querer, de desejar e de ser desejada. Estava viva novamente. E disposta a passar o resto desta vida em um barco sem destino, amando e amando-se. Festejando-se por ser ela.

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